Virtuose

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Esse foi meu primeiro piano. Branco, de calda, bem sofisticado para minha idade. Tempos depois ganhei um alemão, M Schwartzmann, robusto de armário, marrom madeira clássico. E assim comecei os estudos. Foram 5, 6 anos no total, dos 8 aos 13.

No primeiro estudei com uma vizinha. Ela era bruta e chegava a arrancar a cutícula dos meus dedos empurrando-os com força contra as teclas. Traumático. Ela também tinha 10 cachorros que faziam xixi em jornais que cobriam o piso de toda a casa. O cheiro, minha gente, era outra tortura.

Até que entrei para as oficinas de piano da UFBA e carrego comigo, até hoje, a grande frustração de não ter sido uma musicista ao invés de jornalista. Acho que eu seria mais feliz vivendo (ou sobrevivendo) de música, o que não é muito diferente do que tento fazer com o jornalismo.

Pensei muito nisso por conta da live que fiz com Fabi Pimentel, que trabalha na Orquestra Sinfônica da Bahia. Sempre fui muito tímida e passava muito tempo sozinha na escola de música, entre uma aula e outra ou esperando que alguém fosse me buscar.

Mas essas esperas me levavam para os ensaios da orquestra, no salão do térreo. Provavelmente por isso fico tão fascinada quando vejo músicos se apresentando ao vivo: tirar um som de um instrumento que agrade aos ouvidos não é fácil: tem que ter precisão, técnica, emoção, coração. É bem impressionante.

No auge dos meus 9 anos observava os sons que cada uma daquelas pessoas da orquestra fazia (tanto que quis largar o piano por outros algumas vezes, mas fui impedida).

Eu queria tocar Engenheiros do Havaí e me “obrigavam” a tocar Bach. Podia ter um meio termo, é verdade, mas acho que minha paixão por música seria bem limitada se eu não tivesse esse pé infantil em vagas lembranças clássicas.

A ironia da vida? Nunca consegui levar o piano comigo para SP e quando voltei para Salvador ele não estava mais aqui – ninguém esperava que eu voltasse mesmo. As coisas mudaram.

E talvez só porque não o tenha por perto penso no quanto eu gostaria de praticar nessa quarentena. Jazz e bossa nova, de preferência. Mas com um Czerny aqui, um Mozart ali, um Bach e Villa-Lobos acolá e um Humberto Gessinger só pra distrair.

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