O tempero da depressão

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Precisei fazer outra troca de medicação em menos de um mês. Meu psiquiatra disse: “Paloma, infelizmente antidepressivos são como temperos: você vai misturando e testando as quantidades até acertar o que fica melhor ao seu gosto”.

O que me entristece é que essa semana estou tirando exatamente o remédio que me arrancou da apatia no fim do 2019. O que me fez viajar depois do natal, passar uns dias na fazenda, atravessar a virada de ano na praia com os pés e a barra do vestido na água salgada e aproveitar o verão da Bahia. Saí do quarto. Saí da casa. Voltei a dirigir. Fui guia de amigos que moram em Paris; fui pro Porto da Barra e para shows com minha amiga que mora em São Paulo; fiz vários programas incríveis com outra que acabou de mudar de Recife e me enchi de glitter, neon, fantasia e alegria atrás de bloquinhos e de trios elétricos no Carnaval de Salvador. Tudo isso com amigos queridos, antigos e novos, daqui, de lá, de acolá. Beijei, abracei, apertei e não larguei.

Até que a pandemia chegou. A realidade mudou e a necessidade de lidar com novos sentimentos e desalentos apareceu. O remédio “milagroso” já não me servia mais; em tempos de quarentena, ele só me dava fome.

Mas não estou falando de qualquer vontade de comer. Estou falando de compulsão, de desespero, de não conseguir pensar em mais nada e de não sentir o menor prazer ao enfiar pra dentro tudo aquilo que tanto almejava. Eu comia até passar mal sem nenhuma vontade de comer. Não era vontade. Era compulsão.

E agora veio um novo remédio para tentar aliviar esse sintoma. Mas há um mês não durmo direito. Acordo todos os dias às 2, 3 da manhã e não consigo dormir durante o dia. Pareço um zumbi. Não produzo, não leio, não estudo, não concentro e me irrito.

Pelo menos as crises de enxaqueca diminuíram; isso nunca tinha acontecido antes, com remédio nenhum, em pelo menos 30 anos de crises.

Mas não comemoro; ando cansada demais com todos os outros sintomas. Só lembro do que disse Lucas: “uma pitada daqui, outra pitada dali, uma coisa melhora, outra piora e seguimos tentando até acertar o ponto da receita”.

Desde 2016 perco o tal ponto. Sempre fui péssima na cozinha.

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