Nos últimos anos, quado comecei a morar sozinha e fiz da TV minha grande companheira – e atualmente instrumento de trabalho – fui me afastando cada vez mais da leitura. Assumo isso aqui, publicamente, com muita vergonha. Principalmente porque tenho pretensões literárias e como um dos grandes sonhos da vida terminar e publicar meu livro (e vários outros livros). E como é que alguém pode querer escrever sem ler? Acho absurdo. Se hoje escrevo minimamente bem, devo isso às leituras que fazia desde sempre.
Nunca fui do tipo voraz que lia tudo ao mesmo tempo; muito pelo contrário. Sou uma das pessoas mais distraídas do mundo (e um pouco exagerada também) e o ato de ler sempre foi trabalhoso. Alguns parágrafos, eventualmente, precisavam ser visto e revistos umas cinco vezes para que, enfim, eu conseguisse me concentrar e compreender o que estava sendo dito. Mas, mesmo assim, eu sempre estava com uma leitura em andamento. E isso foi diminuindo, diminuindo…
Até que conheci Rodrigo, leitor compulsivo que sente um prazer imenso em comprar e devorar tudo o que fizer o mínimo de sentido pela reunião de letras em um papel – ou mesmo através da tela do computador, tablet, kindle etc. E comecei a sentir inveja dessa vontade e desse prazer. E culpa pela quantidade de livros que ele me dava e eu enrolava por meses para chegar à conclusão final.
Hoje estou satisfeita porque terminei um livro. Feliz mesmo porque consegui fazer isso em menos de um mês. ‘O Oceano no Fim do Caminho’ é o mais recente lançamento de Neil Gaiman.
Quando morei nos Estados Unidos, Rodrigo me deu de presente um livro desse autor – de quem eu já tinha escutado falar, principalmente por causa de ‘Sandman’ e ‘Coraline’, mas de quem nunca tinha lido nada.
Pois bem, ‘The Graveyard Book’ (‘O Livro do Cemitério’) foi o primeiro que Rodrigo me deu enquanto estávamos na Califórnia para que eu treinasse meu inglês. E foi o primeiro livro que li inteiro – e compreendi – em outra língua. Além da importância didática, eu me apaixonei completamente por Nobody Owens, assim como estou com o coração repleto de amor por Lettie Hempstock.
Eu gosto de Neil Gaiman. Cada vez mais. E fico grata por ele (juntamente com as incansáveis tentativas através de empréstimos e presentes de Rodrigo) resgatar o meu prazer pela leitura. E consequentemente pela escrita. Afinal, acabei de ler e corri para cá.
———————————————————————
Obs: Puxando para o lado audiovisual, Neil Gaiman ainda é responsável por alguns dos melhores roteiros de episódios de uma das minhas séries preferidas ‘Doctor Who’ (porque quem assiste sabe que nunca existirá uma personificação tão fantástica da Tardis quanto a “esposa do doutor”).
