Não era silêncio, era o som abafado da vida pulsante de Salvador. Parecia que eu estava há muitas léguas submarinas da praia, quem sabe até no meio do caminho entre o Brasil e a África.
Durante alguns pares de segundos na horizontal, intercalados pela insegurança que me fazia voltar para a vertical, me permiti boiar.
Fechei os olhos, estiquei os braços, as pernas e fiquei ali, meio submersa na água de sal, meio exposta aos raios de sol e meio imersa em pensamentos surpreendentemente tranquilos.
Me afastei da voz da minha mãe que batia papo com uma desconhecida, dos vendedores de acarajé e queijo coalho que anunciavam suas delícias para garantir o salário do dia e dos pescadores que falavam da maré, dos cardumes, das redes e se divertiam com suas histórias pouco reais.
Me afastei do som das pessoas que dirigiam carros, bicicletas ou seguiam de ônibus para algum lugar, qualquer lugar. Sumi da vida verdadeira. Me afundei na vida que ainda há em mim.
Me permiti ficar solta, ficar livre. Até que o medo de estar afastada demais ou perto demais da areia me trouxe de volta e atrapalhou minha paz.
Mas, por alguns minutos, me senti livre. Éramos eu, o mar, o sol e o som abafado de uma cidade que estava longe dos meus ouvidos, da minha cabeça, da minha confusão.
Me reencontrei com ele, o Atlântico, vizinho que evitei nos últimos meses. Pois em um sábado de inverno ele me chamou. E eu fui.