Estou ausente de mim. Ausente do mundo. Ausente de tudo. Ausente de uma vida que deveria ser vivida. Sigo apenas sobrevivendo, apenas observando, por oras atenta, por oras distraída, vendo o mundo rodar, o dia passar, o tempo voar.
Em janeiro de 2016 comecei a tomar antidepressivos. A princípio, para a ansiedade que atingiu níveis extremos. Ansiosa sempre fui. Neurótica pela organização das coisas; nem tanto as coisas físicas, mas as coisas do dia a dia: as contas para pagar, os compromissos, os prazos… mas em janeiro de 2016 os sentimentos estavam em ebulição.
Comecei com os remédios de de lá para cá não parei. E a ansiedade, de tão frenética, me paralisou. E a depressão chegou. Uma amiga, talvez a pessoa que mais me conhece na vida, disse que a depressão sempre esteve aqui; em 2016 ela começou a tomar conta.
Tem a genética, tem sociedade, tem a pessoa que eu sou e como fui criada. São tantos fatores tão variáveis de pessoa para pessoa que nem vale tanto falar sobre as razões da minha depressão – deixo isso para as sessões de terapia. O importante é falar que a depressão paralisa e rouba o que é mais importante.
Com o passar do tempo, e não foi de uma vez só, fui perdendo o prazer das coisas. De tudo o que eu adorava fazer. De tudo o que me fazia feliz. Escrever, ir a shows musicais, ao cinema, ver seriados…
Tive que lidar com a dificuldade de encontrar um remédio que me fizesse bem e não me fizesse tão mal. Meu organismo é difícil, parece não gostar desses remédios e rejeita a maioria deles. Foram meses testando, esperando, dobrando, triplicando, esperando mais, mudando. Até hoje não acho que tenha encontrado o remédio certo.
Mas voltando ao prazer das coisas, ou pior, da perda desse prazer, acredito que muito tinha a ver com a tal paralisia. Desenvolvi um medo irracional de sair de casa. Ataques de pânico na rua. Angústia só de pensar em sair do meu apartamento, lugar que me fazia sentir segura e minimamente calma. Minimamente, porque, apesar da apatia e dos dias na cama ou no sofá, a cabeça não parava de pensar em tudo que eu deveria estar fazendo e não conseguia. E o sofrimento só aumentava. Atravessar a rua para ir no mercado me causava um sofrimento imenso.
Por isso devo pedir desculpas a todas as pessoas que gostam de mim. Perdi muitos eventos. Não fui a aniversários, botecos casuais, ocasiões importantes. Não prestigiei, não abracei, não estive presente. Acho que com a depressão me tornei egoísta, característica que nunca fez parte de mim. Mas eu só pensava em mim e no medo que eu tinha de ver as pessoas, de encontrar com elas e falar sobre a minha vida, sobre o que eu sentia; ou não falar e ter uma crise de pânico e não saber o que fazer.
Desculpem. Por todas as vezes que disse que iria e não fui. Se eu disse que iria, se eu marquei, juro que foi por vontade, por amor, por carinho, por saudade. E se não apareci, foi porque não consegui. E sofri por decepcionar aos que realmente gostavam de mim. Escrevi no passado porque não sei até que ponto a minha depressão afetou as relações, os sentimentos, já que ainda não consegui retomar a vida social.
Algumas mudanças foram óbvias. Outras não. Algumas pessoas foram cruéis e usaram minha doença como desculpa para o afastamento pela covardia de assumir os motivos reais. A essas já desejei o pior; agora não desejo mais nada.
Já escrevi que depressão é uma doença muito grave e que muitas vezes não é levada a sério. Tem gente que acha que é frescura e ferramenta para não fazer nada, coisa de gente preguiçosa, sabe?
Só posso dizer que a falta de vontade de viver é real. É pesada. É asfixiante, angustiante. É o dormir não querendo acordar. É o acordar querendo dormir para não ter que encarar. É não ver saída, não ver solução, não ter esperança. Isso é sério, muito sério, e não desejo a ninguém, apesar de saber que milhões de pessoas no mundo todo sentem o mesmo que eu.
Por isso escrevo, exponho. Não sou só eu, não é só você.
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Obs: Para as pessoas que gostam de mim, sei que esse foi um texto pesado, carregado de tristeza e muito assustador para quem se importa; mas estou me cuidado, apesar das dificuldades. E não tenho coragem de morrer, meus amigos. Existem muitos filmes, seriados, banhos de mar, viagens, beijos na boca e comidas gostosas que preciso aproveitar. Só espero a vontade voltar.