Se numa tomografia cerebral aparecesse a enxurrada de pensamentos ininterruptos, obsessivos, pessimistas e desesperançosos, ou se num raio-X do coração fosse fácil identificar todo o peso da angústia e tristeza de viver, aí sim, talvez as pessoas levassem a doença mais a sério.
Eletrocardiogramas alterados tenho até quando tento fazer alguma atividade física; falta de vitamina D no sangue, bom, é só morar em São Paulo para não ter.
Mas o meu ponto aqui é que a maioria das pessoas acha que depressão é frescura. É ferramenta para chantagem emocional; é desculpa para se entregar à preguiça, para inventar motivo pouco elaborado e não fazer suas obrigações.
Talvez se existisse um exame, uma prova científica, uma biópsia, umas imagens com pontos escuros e sofridos no peito e na cabeça, aí sim, a empatia com quem sofre desse mal seria possível.
Na verdade, além de fatores genéticos, a depressão também é provocada por alterações químicas, por isso a necessidade de remédios para repor o que está faltando no organismo. Mas, ainda assim, muita gente acha que é bobagem ou algo muito fácil de ser superado; basta ter força de vontade (como eu odeio esse frase!!!).
Digo isso porque já fui uma dessas pessoas estupidamente julgadoras. Escolhia a desculpa da chantagem emocional para não ter que lidar com a verdade da doença de quem estava perto. Aí veio o tal universo do qual falei mal outro dia e me botou deprimida depois dos 35 anos de idade (antes, até). Como disse outro dia uma amiga que me conhece há muitos anos, a doença veio com força agora, mas sempre foi evidente que eu tinha um pezinho (ou talvez as duas pernas inteiras) nela.
E por isso sinto falta da Paloma aos 18 anos. Sofri um acidente de carro. Fiz várias cirurgias. Passei por diferentes decepções, dores e provações. E nunca, em nenhum momento, sequer cheguei perto de sentir a dor que sinto hoje. Naquela época minha capacidade de vestir uma armadura e lutar para ficar bem era maior. Estranho que, com a maturidade, o efeito tenha sido inverso. Sempre achei que a sabedoria e plenitude viriam junto com o balzaquianismo.
Depressão é doença séria e não pode ser levada como frescura. Tem gente que usa em vão os sintomas para fingir fragilidade em busca de mais atenção? Claro que tem. Tem gente pra tudo nesse mundo. Tem gente até que defende Bolsonaro, oras. Mas não podemos deixar que uma minoria tire o foco do que é importante.
Depressão mata. É uma doença difícil de ser diagnosticada e difícil de ser tratada. São muitas opções de remédios e o corpo de cada um reage das formas mais diferentes e absurdas aos seus efeitos. São tentativas e erros que podem durar meses.
Fora a dificuldade de encontrar bons médicos; a maioria dos psiquiatras que encontrei nos últimos 3 anos eram extremamente egocêntricos que acreditavam me conhecer na primeira encarada de 2 minutos. Já escutei que eu era bonita e jovem demais para ter depressão. Já saí chorando da sala de uma médica que me deu antidepressivos para emagrecer e, quando questionei o porquê de me sentir tão mal, ela teve um ataque dizendo, aos berros, que se eu não confiava em seu trabalho era melhor ir embora. Ah, e sempre tem o que joga a culpa na histeria feminina, claro.
Fato é que é difícil identificar, é difícil tratar, é difícil conviver com quem está passando por esse processo e é mais difícil ainda ser quem passa por isso.
Portanto, tenham mais cuidado, carinho e atenção com quem sofre sem saber o motivo. Com quem não consegue sair de casa. Com quem pensa em morrer. Fiquem atentos aos detalhes.
E procurem descobrir como ajudar com quem entende do assunto (o psicólogo, analista, terapeuta da pessoa, ou mesmo através de leituras sobre o tema): pressionar não funciona. Nunca. Para nada. Na minha opinião de deprimida, a imensa pressão para melhorar só piora tudo.
Um dia desses contarei detalhadamente minha experiência com a doença. Acho importante falar cada vez mais sobre isso. Depressão precisa deixar de ter esse terrível e superficial estigma de frescura para ser algo faz muito gente sofrer a ponto de querer, e muitas vezes conseguir tirar a própria vida. Isso não é pouca coisa e não deve ser visto como desculpa de quem não quer levantar do sofá pra ir lavar roupa ou fazer mercado.
Achei um texto completinho do Ministério da Saúde sobre depressão. Vale dar uma olhada. Queria ter encontrado antes… teria mandando pra um monte de gente que não sabia como agir comigo. É só clicar aqui.
Seu relato é fascinante e assustador ao mesmo tempo. A depressão é uma doença bem complicada de ser lidada e principalmente de ser entendida por quem está “de fora”. Torço muito para a sua melhora e estou aqui disponível no que puder ajudar nessa luta. beijos!