Eu poderia continuar falando sobre o quão difícil está minha vida nesse momento, ou dissertar sobre as crises mundiais, sobre Lula que ainda está preso, Bolsonaro que ainda é presidente, a Vale que ainda não foi fechada, os policiais que continuam matando gente inocente, os homens que seguem espancando e acabando com a vida das mulheres e o mar de lama em que o país cada vez mais se afunda.
Mas hoje não farei isso. Hoje vou é desabafar sobre uma imensa dificuldade que tenho tido em pouco mais de uma semana que desembarquei na Cidade de São Salvador: a porra da umidade no meu cabelo.
Não consigo lembrar como sobrevivi 26 anos lidando com esse efeito catastrófico em um cabelo meio cacheado, meio ondulado e muito cheio como o meu. Foram 11 anos de paraíso entre São Paulo e a Califórnia, onde a pele sofria, o nariz sangrava, a rinite atacava, mas o cabelo ficava lindo.
Ok, assumo que tanto em Salvador quando em São Paulo, em alguns momentos, recorri a certas técnicas que usavam formol só pela praticidade mesmo. Mas nada com muita frequência, nada com muito apego.
Depois que completei 30 anos, meu cabelo mudou totalmente. Ou foi o formol que entrou de alguma maneira pela corrente sanguínea, ou foram os hormônios. Prefiro ficar com a segunda opção. O cabelo ficou menos cacheado e menos cheio; era até possível pentear seco sem parecer Maria Bethânia (musa suprema, sempre, já que só sendo ela pra segurar uma cabeleira daquelas com elegância).
Fato é que a umidade marítima desordena os fios. Cada um vai para um lado diferente. A textura fica esquisita. O cabelo fica meio elástico, meio grosso, meio grudado (deu pra entender?) e meio rebelde. O frizz toma conta da cabeça inteira, como se eu tivesse colocado a mão em um daqueles experimentos de museus científicos que deixa “o cabelo em pé”.
Tenho me sentido como a marisqueira Luzia na primeira fase de “Segundo Sol”, antes dela virar a Dj finlandesa Ariela sofisticada. Pense numa caracterização perfeita? Não devem ter feito absolutamente nada no cabelo da atriz; foi só deixar a Bahia agir.
Voltei pra Salvador e devo assumir toda a confusão do meu cérebro representada nos fios da cabeça. É o caos da minha vida perfeitamente representado na desordem capilar.
Saudade, clima seco, que fazia meu nariz sangrar.