Eu exibia, orgulhosa, duas fitas no punho esquerdo: uma azul e outra branca (as clássicas). Uma delas representava o desejo de conseguir um bom trabalho; a outra, a tão sonhada casa.
Durante algumas poucas semanas, os dois pedidos foram realizados com louvor. E continuei exibindo minha baianidade em forma de fitas. Finalmente eu reconstruiria minha vida, destruída por golpes cruéis de um destino que me fez chegar no fundo do poço.
Pois o destino, o universo, o Senhor do Bonfim ou sei lá quem, me mostrou que ainda dava para cavar mais um pouquinho para ter a certeza que era possível ir além do fundo do tal poço.
E eu, em um momento de profunda tristeza, raiva e desespero, peguei uma tesoura e cortei minhas fitas. Sim, eu fiz isso. Nunca em 37 anos de vida soteropolitana cogitei tirar uma fita do Bonfim do meu braço. Elas sempre caíram de forma natural, mesmo que os desejos não tenham sido atendidos. Mas essa sou eu com raiva: pego tesouras e corto fitas.
Afinal, como já disse aos quatro ventos (são quatro mesmo?) sou atéia mas sou baiana. Não acredito em Deus, mas quando faço pedidos ao amarrar representações de uma Igreja Católica que em nada me agrada no braço, coloco fé de que aquilo possa se realizar. Mas só porque tal Igreja fica na Colina Sagrada, que fique bem claro.
Assim como sinto a energia de Iemanjá no 2 de Fevereiro e algumas vezes que mergulho no mar; ou talvez seja a energia da água salgada com o sol que me revitaliza e que faz perceber como a natureza é incrível. Segundo minha mãe, Nossa Senhora da Conceição da Praia é minha madrinha. Se ela diz, porque irei contestar, não é mesmo? A maturidade tem dessas coisas…
Mas o fato é que peguei a tesoura de cortar as minhas unhas e joguei fora a pouca fé que eu tinha em… sei lá em quem. Ando mesmo sem fé na vida, mas isso é história para outro textão.
Não sei se serei castigada. Do jeito que as coisas andam, mais um castigo já não faz tanta diferença assim.
obs: sim, textos deprês é o que teremos por enquanto.
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