Frequentemente eu me sinto fracassada. Pelas pequenas e grandes coisas que faço, pelas pequenas e grandes decisões que tomo. É algo maior do que eu e que, obviamente, deveria ser tratado durante anos em incontáveis sessões de terapia, mas que ainda não foi.
E esse meu sentimento de fracasso me paralisa de tal forma que bloqueia completamente qualquer auto-aceitação às coisas boas e interessantes que realizei, assim como sempre encontro um defeito quando escuto um elogio alheio. Posso até não dizer no momento que escuto, mas internamente sempre busco milhões de opções e comparações que transformem tal elogio em um gesto gentil de educação. Como gosto de gentilezas, fico feliz em recebê-las, apesar da mente louca não parar de trabalhar na auto-depreciação constante.
(Sim, sou louca. Sempre tive medo de ficar louca. Estou ficando. Já sou).
E digo mais, meus poucos, queridos e importantes leitores: é muito cansativo ser dessa forma. Afinal, por mais que me esforce, e me esforço muito, nada está tão bom quanto eu acho que deveria estar. Nada terá notoriedade, porque obviamente não está tão bom e, claro, não merecerá atenção para uma divulgação mais cuidadosa ou uma vendida de peixe das boas que me faça chegar onde eu quero.
E onde eu quero chegar? Quero escrever. Escrever mais. Escrever crônicas irônicas, inteligentes e divertidas no blog sobre detalhes cotidianos que passam desapercebidos mas que com as palavras certas podem se tornar deliciosos pontos de observação de um leitor mais atento.
Só que frequentemente me pego reprimindo tais textos por achar que não estão tão bons, que ninguém se importa com o que acho das coisas e que deveria guardar tudo para mim.
Quero escrever livros. Meus livros. Meus eternos projetos de livros que se modificam mas estão aqui, em pastas, e-mails e hd’s externos mostrando que não tenho a disciplina e a coragem de dizer que sou capaz de escrever um livro de verdade.
E assim sigo enrolando, tentando escrever um parágrafo aqui, outro ali, mas acreditando que nunca serei boa o suficiente, seja na escrita ou na auto-promoção para fazer a coisa seguir adiante.
Porque essa questão da auto-promoção é um problema. Tem gente que tem um grande talento: se vender. Exaltar suas qualidade de tal forma que, mesmo que elas não existam, qualquer um acredita e paga para ver. Conheço um monte de gente medíocre assim. Mas essas pessoas publicaram livros. E sim, as invejo. Porque elas têm coragem, elas acreditam em seu próprio taco e não estão nem aí para a opinião alheia. Ou se estão, fingem muito bem. Auto-confiança é tudo nesse vida.
Também quero trabalhar mais com TV. Nunca fui daquelas que desde a faculdade fazia de tudo para ficar em frente às câmeras e até achava bem boboca quando me perguntavam o que eu estudava e, ao responder jornalismo, ouvia um “quer ser a próxima Fátima Bernardes, né?”.
Eu não. Quero ser mesmo uma Marília Grabriela, ou um Jon Stewart brasileiro (mas aí vem o problema de que não sei fazer comédia, apesar de ter um pé na ironia). Gosto de entrevistar, de ter tempo para pesquisar e poder esmiuçar detalhes da vida e/ou carreira de pessoas que estejam dispostas a contar suas histórias. Claro que sempre existem os não tão bem-dispostos assim, mas até esses eu gosto de entrevistar. Tá, não gosto, mas se é necessário para o trabalho, eu faço.
Gosto de vídeo. Gosto do trabalho de edição, da inserção de trilha sonora, imagens de apoio, recursos tecnológicos. Gosto de ver as palavras saindo da boca do entrevistado – apesar de também achar fascinante a capacidade de descrever o que um entrevistado disse e prender a atenção das pessoas com palavras em um papel (ou site, para também ser moderna). Gosto tanto da escrita quanto do audiovisual.
Mas eu tenho o sotaque carregado. Não me encaixo em padrões de beleza e ainda tenho a língua presa. Às vezes acho que isso não tem importância e que tenho talento, que fiz entrevistas e programas dos quais gostei bastante, dos quais me orgulho e que deveria continuar insistindo nisso. Mas às vezes acho que estou apenas me iludindo e que nunca, ninguém que possa me pagar um salário digno, vai querer me contratar para esse tipo de função.
Sabe o que é o mais doido de tudo, já que assumi publicamente que sou maluca? Eu me acho competente. Muito. E sei que fiz bem-feito na grande maioria dos lugares onde trabalhei. Me orgulho do meu trabalho, mas duvido de mim. Faz sentido?
Também queria aprender a costurar, mas acho que até as agulhas e linhas vão querer manter distância de alguém que reclama tanto assim de si. Bom, talvez essa seja a hora certa de buscar minhas agulhas perdidas no palheiro..
temos mentes gêmeas, só pode. me identifiquei com cada linha.
Oi Nelson, fiquei feliz com seu comentário. Não por, pelo visto, você também ser atormentado por tais crises, mas por ter se identificado com o que escrevi. :)
Poxa, você tem “coragem” de admitir ser “louca” nesse texto, mas não quer postar os outros textos (risos)? Ter um blog é isso mesmo, as vezes escrever achando que ninguém vai ler e postar mesmo assim. Volta e meia acho que ninguém lê meu blog já que quase ninguém comenta. Mas eu gosto e vou postando mesmo assim. Não se preocupe, pode postar seus textos que alguém (nem que seja pelo menos eu) vai ler. eheheheheh… :)
<3