
Em 2008 saí da minha casa no bairro da Pituba e fui para São Paulo, onde criei uma nova casa. No primeiro retorno à terra natal, muitos meses depois, o que mais me impressionou foi descobrir que minha antiga casa tinha cheiro – maior significado de que ali não era mais o meu lugar do dia a dia.
Nas vezes seguintes que voltei para a cidade, essa sensação foi diminuindo; não porque a casa da minha mãe tivesse perdido seu cheiro característico, mas porque a minha estranheza com essa situação desapareceu.
Agora, quase um ano após a última vez que estive em Salvador, sinto o cheiro do ar de forma tal que tenho a sensação de ter desenvolvido uma supersensibilidade olfativa.
Mas a culpa não é do ar, e sim, do mar. Ao sair de São Paulo por algumas semanas e deixar para trás a Marginal Pinheiros, o concreto, perfumes fortes e suores dentro do ônibus lotado, neblina e fumaça poluída, sinto como se todo o meu ser fosse inundado por uma mistura de sal e protetor solar. Tudo cheira a sundown. E areia. E maresia.
Sei que nesse momento romantizo um pouco pela saudade, afinal, Salvador não escapa da mistura de odores formada pela urina nas paredes, do dendê fervente nos tabuleiros das baianas e outros suores abafados com perfumes adocicados que jorram pelas ruas da cidade.
Mas agora é o cheiro da nostalgia que me faz feliz.