O que é que Caymmi tem?

Carybé, Caymmi e Jorge amado
Carybé, Caymmi e Jorge amado

Dos baianos geniais, Caymmi nunca foi meu preferido – apesar que devo deixar bem claro aqui que acho que ele faz sim parte desse grupo de grandes compositores da música brasileira com o mesmo sotaque que carrego. Mas, sabe como é, Caetano, Gil e até mesmo João Gilberto (porque eu adoro uma bossa nova), sempre estiveram mais presentes nas vitrolas de casa, o que estimulou uma relação afetiva desde muito cedo.

Já Caymmi sempre foi mais para o lado folclórico de uma Bahia melancólica que eu não via por onde passava. Naquela época tinha um olhar mais ignorante sobre as coisas da minha cidade do que o que adquiri depois que fui embora, quando virei mais baiana do que nunca, por força das circunstâncias.

Mas, quando eu ouço a clássica pergunta ‘O que é que a baiana tem?‘, respondo cantarolando: ‘Tem um santo / Tem encantos / Tem um jeito / Tem defeitos também / Que Deus dá’. Porque Gilberto Gil, até quando escreve sobre outro estado, dá um jeito que fazer lindos versos sobre a Bahia: ‘Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço / A Bahia já me deu régua e compasso / Quem sabe de mim sou eu / Aquele abraço!”.

Ou quando penso nas ruas e na praia de Itapuã, desculpe Caymmi, mas não é o seu coqueiro que me emociona. Penso em Caetano Veloso te citando em uma linda canção: “Itapuã / Quando tu me faltas / Tuas palmas altas, mandam um vento a mim / Assim: Caymmi’. E até Toquinho, com seu pé soteropolitano, me traz uma Itapuã mais amorosa em ‘seu mar que não tem tamanho e um arco-íris no ar”.

Mas Caymmi, eu sei bem que ninguém como você retratou tão bem o que de mais simplório e cotidiano poderia ser encontrado pela cidade, pelas ruas, ladeiras, praias, lagoas, terreiros e abaixo do sol carregado do cheiro de coentro com dendê. Sei disso e me arrependo por ter dito em voz alta que sua música me irrita. Ok, irrita um pouco. As repetições, a malemolência e tentativa de compor algo genial mas que tropeça em uma rede repetitiva e que fica por lá mesmo, num eterno vai a vem, dando aquele gostinho de quero mais, não são para mim.

Mas isso, em nada, diminui sua genialidade. Você pode não fazer parte da lista dos meus favoritos, mas está longe da lista dos malditos. E também, quem sou eu para questioná-lo assim, de forma tão leviana, já que o máximo que fiz musicalmente até o momento foi compor umas valsinha aos 9 anos de idade? (Fui premiada na escola de música, fato que cito só para acariciar meu ego).

Confesso aqui um sonho que nunca será realizado: sentar em um boteco, à beira mar, e papear durante horas sem fim com você, Sr. Caymmi, e seus amigos fanfarrões, conhecidos nas quebradas como Jorge Amado e Carybé. Alguém com um turma dessas, só poderia ser um cara legal. E que merece meu respeito.

Essa é uma das minhas preferidas – engraçado que gosto mais das que falam de amor e menos da Bahia.

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