Foram quase 3 horas para chegar em casa. Isso mesmo. Quase 3 horas do meu dia presa em um engarrafamento. Talvez por causa da chuva que não parava de cair. Talvez por alguma manifestação. Talvez por um carro quebrado no meio do caminho. Talvez apenas pelo excesso.
E durante as duas primeiras horas até pensei em vários parágrafos poeticamente descritivos para colcocar aqui. Sobre os guarda-chuvas, as cores, as pessoas que andavam apressadas e algumas que calmamente se molhavam com a única certeza de que nada mais poderia ser feito.
Pensei bastante nisso nas duas primeiras horas. Acho que se eu conseguisse escrever em algum lugar – em qualquer lugar – os textos que monto na minha cabeça, eu seria uma grande escritora. Mas eles se perdem pelo caminho. E isso aconteceu após a meia-hora seguinte das duas primeiras horas no engarrafamento.
Quando cheguei em casa, ansiosa por minha cama e por não pensar em nada, consegui pegar uma pedaço da nova novela. Com um misterioso vento nas folhagens de uma floresta perseguindo um misterioso homem que logo depois apareceu morto. Referência clara e explícita a LOST. Que essa inspiração não seja um tipo de ‘crônica de uma morte anunciada’. Sim, LOST me traumatizou. Aquela porcaria que tinha tudo para ser fantástica e teve um dos piores desfechos já vistos na televisão mundial.
E ao chegar em casa e ver o pedaço da tal nova novela, eis que reconheço uma outra São Paulo: a do ‘amor verdadeiro que não tem vista para o mar’. A música de uma das minhas bandas preferidas da cidade estava lá, com vista para o minhocão. Pena que a Pullovers tenha chegado ao fim.
Pois enquanto estava no engarrafamento, após as duas primeiras horas, percebi quão fora de lugar ficam as músicas da Bahia na paisagem paulistana. Não tive paciência de escutar ‘É D’oxum’, nem ‘Vida Boa’, muito menos ‘Chame Gente’. Simplesmente não combina. Acho até que minha baianidade sofre com algo tão fora de propósito. Ouvi Kiss. Los Hermanos. The Cure. Cake. Billie Holyday. Jorge Ben. Lauren Hill. Mas nem quis saber da Timbalada.
Eu só conseguia pensar: quase três horas para chegar em casa. Nada além do horizonte. Nem mobilidade. Nem qualidade de vida.
Preciso anotar tudo o que penso quando estou sem poder anotar.