Tenho convivido muito com minha prima de 16 anos que está prestes a fazer vestibular. Muitas vezes me empolgo com as possibilidades de toda uma vida e carreira pela frente podendo pensar, pesar, escolher e me angustio nostalgicamente com as escolhas que fiz.
Eu gostava de escrever, era excelente em redação na escola e achei que jornalismo seria o caminho certo. Fiz faculdade e desde sempre me empenhei muitos em conseguir e trabalhar bem nos estágios – mesmo encarando chefes difíceis e vez ou outra ambientes hostis, como todos devem conhecer em suas profissões.
Passei por TV, rádio, impresso. Criei meu próprio programa de entrevistas, fiz especialização em análise de TV e Cinema. E aí você pensa: até agora parece uma trajetória bem sucedida, certo? Não sei. Não digo que não fui bem sucedida, mas garanto que nunca nada foi fácil ou saiu do jeito que eu realmente quis.
E a partir do momento em que deixei de ser estagiária me dei conta de toda a dificuldade que é ser jornalista no Brasil e que, com o passar do tempo e as mudanças de mídias, só piora. Penso nas condições de trabalho, nos salários obscenos, na carga horária absurda com finais de semanas e feriados tomados, na dificuldade de fazer um bom trabalho sendo engolida pela pressa ou pela incompetência, na infinidade de gente procurando emprego e fazendo com que, cada vez mais, a valorização do profissional valha nada.
Afinal, porque os donos de empresas deveriam ouvir nossas reivindicações se é tão fácil achar outros 40 que ocupem nosso lugar, por metade do salário, sendo PJ, sem transporte, plano de saúde e alimentação? E aí, nos submetemos a tudo pelo simples fato de que manter o emprego é necessário, afinal, as contas não param de chegar, não importa toda a sua crise profissional e talento desperdiçado ou pouco valorizado.
Tenho pensado muito sobre isso e ainda mais hoje, quando li o texto do querido Luiz Cesar Pimentel sobre os jornalistas preguiçosos de música que se entregam ao status VIP e fazem trabalhos limitados e distantes do que aprendemos durante quatro anos que deveria ser. Isso tem sido cada vez mais comum. Parece que já é tão difícil chegar a algum lugar sendo jornalista que quando você recebe o mínimo de regalias já acha que tem o rei na barriga.
Pode ser compensação, ou pura boçalidade mesmo (sei de muitos que se acham tão genais e, por isso, não precisam de esforço nenhum para apurar, pesquisar, se debruçar em uma boa história – apenas seu nomezinho no crédito já deve ser o bastante para que o leitor agradeça).
E volto a pensar que não deveria ter largado as aulas de piano, que devia ter estudado pintura, talvez feito arquitetura ou mesmo letras – como recentemente escutei da minha avó que seria uma opção muito melhor do que o jornalismo.. quem diria.
Me sinto velha, com parte da vida desperdiçada, sem saber o que mais poderia fazer agora, começando do zero, após ter dedicado tantos anos a algo que me trouxe prazer durante algum tempo – só prazer, porque dinheiro sempre foi difícil – mas que suga tanto para retribuir com muito pouco.
Estou desiludida, eu sei. Mas também sei que sou um tanto masoquista. E assim continuarei insistindo, até sei lá quando.