O caminho sem fim

Atualmente, e esse número deve mudar nos próximos meses, tenho 10 tatuagens. Na verdade fiz 11. Mas como a última serviu para cobrir a penúltima, apenas uma dezena pode ser contada. Acho até que estou no lucro, afinal, o arrependimento veio apenas agora, mais de 16 anos depois da primeira feita, na época em que entrei para a idade das debutantes. Claro que gosto mais de algumas do que de outras, mas essa sensação de que não devia ter feito aconteceu somente uma vez.

Sempre gostei de tatuagens. Sempre achei lindíssimas as pessoas que tinham e as exibiam com muito orgulho por aí, não importando o ambiente, o contexto ou as caras feias de reprovação.

Eu, que sempre fui uma criança e adolescente extremamente tímida que acreditava ser invisível (do tipo que as pessoas nunca se lembrariam de mim em um segundo encontro), talvez tenha recorrido à admiração pela ornamentação permanente na pele como forma de me fazer marcante. Ou talvez seja apenas uma questão de gosto, de achar esteticamente bonito e não me incomodar tanto com a dor sentida durante o processo para chegar a um ponto que isso seja impecilho para fazer a próxima.

Não sei se, caso tivesse um trabalho tradicional, isso me reprimiria. Acho que eu procuraria outro trabalho. Não me vejo em lugares tradicionais. Até passei por um desse tipo logo que mudei para São Paulo. Lá eu era a “baiana exótica”. Sinceramente, nunca me importei e até fazia questão de exibir meus desenhos. Ainda faço isso: quando percebo um olhar curioso no metrô finjo que não é comigo mas dou um jeitinho de posicionar meu corpo em um ângulo tal para que a pessoa consiga ter uma visão melhor do local.

Pois cada um dos meus desenhos tem história. Mesmo que não tenham sido feitos só para mim – como ilustrações de Pablo Picasso e Carybé -, mesmo que tenham sido feitos por um não-tatuador que estava bêbado quando esta que vos escreve também estava bêbada e o resultado foi uma bela frase em uma terrível estética digna de cadeia. Tenho frases, traços, siglas e agora até me aventurei pelo que há de mais tradicional no universo dos “riscados”: old school.

Tenho alguns desenhos feitos pelo meu pai, que os tornam mais especiais ainda, e outros feitos pelos próprios tatuadores. Tenho algumas tatuagens que foram feitas à duas ou três mãos – desenho do pai, mexido pelo amigo designer e com pitacos do tatuador. Fato é que todas fazem parte do meu mosaico particular, impresso na minha pele, entre os meus sinais.

E não me vejo parando de ter ideias. Esse é um caminho sem volta.

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3 comentários em “O caminho sem fim

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