Se você espera descobrir de uma forma simples, direta e didática o que foi o tropicalismo e acredita que assistir ao documentário de Marcelo Machado pode ajudar, vim aqui para te dar um conselho: é mais eficiente dar uma lida na Wikipédia.
Tropicália é um documentário preguiçoso. E digo isso não pela imensa pequisa de imagens de arquivos tanto estrangeiros quanto brasileiros que apresentam cenas maravilhosas do que aconteceu naqueles anos. Acredito que encontrar, juntar, restaurar e editar tudo tenha dado um trabalho imenso. O problema está no que foi feito com esse belo material.
Toda a estrutura narrativa do filme parece baseada no que foi encontrado nessas imagens. Sendo assim, ficou a sensação de que as opiniões dos ilustres convidados como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Arnaldo Baptista e Tom Zé também se limitaram ao que lhes foi mostrado nas tais imagens (apesar de não ter ficado explícito que isso foi feito com todos os entrevistados). E aí, o resultado é a construção confusa sobre um movimento de gente confusa. Mas a história vai muito além disso.
No fim das contas, para quem não tem a menor ideia de como aconteceu o tropicalismo, o filme não acrescenta nada além de boa música – e sim, é muito prazeroso assistir e escutar os momentos de trilha sonora com espetaculares exemplos de talento e criatividade daqueles músicos. Mas, fora isso, é como se os convidados não tivessem sido bem explorados, como se não existisse um roteiro organizado, como se tudo fosse jogado ali de qualquer jeito sem a menor preocupação de continuidade.
Logo no início Caetano fala de Maria Bethânia como uma das precursoras do movimento mas que era individualista demais para se juntar ao grupo. E pára por aí. Se eu não tivesse assistido ao documentário Música é Perfume sobre a cantora e não soubesse que sua estreia nos palcos foi interpretando a música Carcará em um show chamado Opinião que envolvia protestos políticos e sociais e foi muito importante na época, as imagens que representam esse momento na história não fariam o menor sentido.
Assim como Jorge Ben é citado por ter participado quando teve uma música gravada pelos Mutantes mas não apareceu falando absolutamente nada sobre o tema. O que talvez tenha sido menos pior que Rita Lee, que teve sua imagem explorada na maioria do tempo e que aparece em apenas um momento, com uma fala.
Por isso fica a sensação de que não existiu um bom condutor de entrevistas que pudesse arrancar histórias bacanas e depoimentos importantes sobre o que foi aquele extraordinário movimento de vanguarda da música e da cultura no Brasil em uma época de Ditadura Militar. Faltou conversa. Faltou prosa para muita poesia. Mas pelo menos tem muita música.
Não tenho interesse nesse filme, mas as críticas que eu vi eram positivas. Você é a primeira que eu vejo não falar bem.
Paloma! Eu vi o filme há um tempo, mas em condições em que não dava pra prestar atenção o tempo todo, não foi muito justo. Vou revê-lo neste fim de semana e te conto, mas tenho a impressão de que vou concordar com você… pelo que lembro do filme, de março pra cá. Gostei do texto e é sempre melhor – até mais construtivo e rico – ouvir opiniões divergentes sobre ele. Na época do É Tudo Verdade foi uma ovação sem fim aqui no Rio… acho que as pessoas confundem muito o tema (que é delicioso pelas músicas, como você coloca), com a construção do filme. Te conto em breve. Beijo e venha pro festival do Rio!
Hahahaha.. adorei ter sido a única que falou mal Ramon.. mas ó, tem uma crítica do Paulo Moreira Leite que é muito boa e tem a ver com o que eu disse. :)
http://colunas.revistaepoca.globo.com/paulomoreiraleite/2012/09/21/tropicalia-na-auto-glorificacao/
E Tati, por favor me diga.. ainda mais em crítica de cinema, adoooro ler e saber das suas opiniões!